Retrospetiva e Futuro no Imobiliário em Portugal 2022 e 2023 Estamos perante uma revolução do mercado imobiliário em Portugal que vai deixar moça na sociedade portuguesa e nos seus costumes culturais da cultura da posse. Começando pelo aumento dos custos de construção aliado a uma inflação não vista há mais de 30 anos e uma subida de juros que põe final ao período do dinheiro... 15 jan 2023 min de leitura Estamos perante uma revolução do mercado imobiliário em Portugal que vai deixar moça na sociedade portuguesa e nos seus costumes culturais da cultura da posse. Começando pelo aumento dos custos de construção aliado a uma inflação não vista há mais de 30 anos e uma subida de juros que põe final ao período do dinheiro barato, o mercado imobiliário nacional terá de se reinventar e revolucionar. Esta inflação e a respetiva subida dos juros que ainda não chegou ao seu fim, fazem com que os promotores imobiliários nacionais se tenham que dirigir a um novo público estrangeiro com maior capacidade de compra e liquidez, mas também com maior rigor e exigência no que se trata ao standard e ao que chamamos luxo de forma a assegurar a sua própria viabilidade financeira. Por isso e mesmo que ninguém o queira ouvir, a crise começa a instalar-se no mercado imobiliário nacional, embora talvez não no formato esperado. Mas independentemente disso é necessário ver que o aumento dos custos de construção já se previa antes da crise pandémica e que não dá sinais de trégua, juntando-se a isso à escalada da inflação que por si diminui o rendimento disponível das famílias e acima disso o aumento das taxas de juro que torna o crédito para todos mais caro. Resumindo, a situação atual para um resultado pouco animador que é da oferta imobiliária que comporta alto risco na hora da promoção por não haver margem de manobra resultando dos custos crescentes por um lado e por outro, à procura do imóvel com menos capacidade financeira para comprar o mesmo. Toda esta ideia só se reforça com os comunicados da Comissão Europeia que já tinha avançado com a previsão de taxa de inflação para Portugal em 2023 até 5,8% e com uma descida gradual em 2024. O BCE também já confirmou que vai manter a trajetória de subidas taxas de juro para convergirem com a inflação, portanto basta fazer a matemática certa para saber onde vamos chegar com os juros até ao final de 2023. Agora podíamos dizer que o setor imobiliário vai entrar em contração e que vai haver uma crise e uma bolha imobiliária em 2023. Mas isso não vai acontecer por várias razões como as que se seguem. Há um mercado internacional com grande liquidez e com maior apetite de investir e compra em Portugal do que o nacional. Este mercado é cada vez mais presente em Portugal e está a apresentar-se como alternativa consistente para os promotores imobiliários, tanto nacionais como internacionais que atuam no nosso mercado. Hoje a maioria dos novos empreendimentos estão feitos e elaborados especificamente para o público internacional. E por essas razões a mudanças de interesse dos promotores e também a política fiscal errada e promovida nos últimos anos em Portugal, a nova oferta habitacional já não é dirigida à classe média nacional e há sinais de que essa escassez venha a acentuar-se nos próximos tempos. No entanto, existem problemas que provocam toda esta situação e que podem ser aliviados para que haja uma nova onda de investimento para o mercado nacional. Essas são em primeiro lugar a carga fiscal brutal sobre o arrendamento e o investimento imobiliário e em segundo lugar a extrema demora nos licenciamentos que só se resolvem com uma intensa e clara mudança no serviço público que valoriza a iniciativa privada para a criação de habitação para terceiros e que sejam facilitados os projetos que beneficiem o plano de urbanismo e de necessidade de oferta nos conglomerados urbanos nos quais existe mais emprego jovem. O presente contexto do nosso mercado imobiliário acrescido da inflação geral e do aumento dos custos de construção, associado à pesada carga fiscal na promoção e à morosidade dos processos de licenciamento, têm um impacto brutal no preço final da habitação para o consumidor e limita o Promotor na sua possibilidade de oferecer imóvel certificado a preço acessível a maioria da população. As estatísticas mais recentes mostram isso mesmo. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em Setembro, o índice de custos de construção de habitação nova acumulou o sétimo mês consecutivo de aumentos a dois dígitos, ao registar uma subida de 13,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, levando a variação média dos últimos 12 meses deste índice para 10,8%. No mesmo mês, a taxa de juro média associada aos novos contratos de crédito à habitação atingiu um máximo de sete anos, ao aumentar para 2,23%. O mesmo acontece com a inflação, com o índice de preços no consumidor a registar, em Outubro, uma variação de 10,1% em relação ao ano passado, o maior aumento desde 1992. O mercado nacional ainda é dominado pela compra dos portugueses que ainda têm a maior fatia nas vendas de novos imóveis, na maioria quando se trata da compra em planta. isto porque os portugueses conhecem o país melhor que os estrangeiros e por isso continuam a ser os principais compradores nos projetos urbanos e periféricos e representam ainda mais que 80% das transações imobiliárias em Portugal. Então qual é a minha opinião para 2023 quanto ao setor imobiliário em Portugal? Sendo honesto, seria necessário recorrer a uma bola de cristal tendo em conta a atual situação política e governamental em Portugal e a respetiva política fiscal que muita influência têm no nosso ramo. Com o presente governo à deriva, não me admirava nada que fossem implementadas novas medidas fiscais populistas sempre dirigidas ao capital e ao investimento privado que podem influenciar o fluxo do capital e do investimento em Portugal. Desligando a bola de cristal e a influência política neste aspeto, diria que Portugal e o ramo imobiliário em Portugal estão no inicio de uma revolução positiva, ou seja, no ponto nascente do arco iris. Será um ano de maior cautela e pensamento estratégico altamente influenciado pelo comportamento de evolução da inflação e das taxas de juro. Vai haver uma maior diversificação no investimento internacional em Portugal direcionado ao investimento em segmentos alternativos como residencial, senior living, healthcare e student Housing, atraídos pela falta de oferta que existe no mercado nacional., segmentos estes que evoluem a favor de tendências demográficas, beneficiando também de mudanças de perfil geracionais fundamentos de mercado que permanecem válidos por um longo período. Isto vai provocar a tal mudança na cultura em Portugal da habitação própria e permanente (da Posse), para um novo modelo, o do arrendamento a longo prazo, como existe na maioria dos países na Europa. Nestes países a percentagem de propriedade própria não passam dos 35 a 40 % da população desses países. Já o arrendamento a longo prazo é um fator importante, porque rever-te de forma positiva para a economia desses países porque os trabalhadores ou agentes estão mais flexíveis na sua opção em seguirem o emprego que mais os beneficia em vez de ficarem no mesmo local uma vida inteira a pagar uma casa e não poderem seguir a melhor oferta de emprego por terem uma casa para pagar. Com isto, o estado português e o seu governo vão ser obrigados a criar novas normas fiscais para apoiar essa iniciativa da criação de imóveis para arrendamento residencial e vão ter que instalar facilidades e benefícios legais e segurança contratual para os privados que querem investir nessa área ao criarem espaço de habitação para todos e em especial para os nossos jovens que, na conjuntura atual, têm que viver em casa dos pais até aos 36 anos o que devia ser uma vergonha nacional a todo os níveis. Fecho aqui com o último tema do ESG e a descarbonização nos edifícios o que será tema importante em 2023. O parque de edifícios em Portugal exige urgentemente um programa nacional de renovação que esteja em concordância com as metas ambientais traçadas já para 2030. Estes ativos vão distanciar-se e destacar-se pela qualidade que oferecem e por responderem eficazmente às maiores preocupações de ESG e Sustentabilidade das empresas e também dos investidores e compradores com uma consciência ambiental cada vez mais preocupada com o futuro do planeta e por isso como todos nós e os nossos filhos e netos. É importante realçar que Portugal pode estar à frente em muitas questões ambientais mas nesta particularmente está na cauda da Europa pelo que temos que reverter essa posição urgentemente. Autor: Paulo Lopes Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado