Quando penso em tudo o que ouvi e vi na Web Summit e na Ecosystem Summit, há uma ideia que não me sai da cabeça. Se não estragarmos o que está a ser bem feito, Portugal pode deixar de ser, finalmente, um país de partidas para se tornar um verdadeiro país de chegadas. De investimento, de talento, de empresas e, acima de tudo, de oportunidades.
Os sinais estão em todo o lado. Grandes tecnológicas a anunciar investimentos de milhares de milhões em data centers e infraestruturas de IA. Projetos como o da Start Campus em Sines a transformar a nossa costa num ponto estratégico da internet mundial. Um pipeline de investimento em centros de dados que pode valer vários pontos de PIB. A possibilidade de receber uma gigafábrica de IA ao abrigo de um consórcio europeu liderado por instituições financeiras nacionais. Tudo isto deixa de ser sonho quando começa a entrar em planos oficiais, memorandos e contratos.
Ao mesmo tempo, o país mexe-se por dentro. A Fábrica de Unicórnios abre um hub de saúde no Rossio, ligado a farmacêuticas, grupos hospitalares, hubs de longevidade e escolas de medicina. Plataformas globais de trabalho remoto escolhem Lisboa para instalar hubs europeus. Empresas portuguesas de saúde digital, deep tech e IA anunciam clusters de investigação no Porto, em Lisboa, em outras cidades.
Startup Portugal mostra um ecossistema com mais de cinco mil startups, volume de negócios em crescimento, salários médios muito acima da média nacional e exportações que já pesam na balança do país. Autarquias do interior assinam protocolos com entidades como a Empowered Startups e instituições de ensino superior, como o Politécnico de Santarém, para atrair talento e investimento para fora dos centros óbvios.
Claro que não basta somar anúncios e acreditar que o resto acontece por magia. O futuro vai depender da nossa capacidade de alinhar várias peças ao mesmo tempo. Reguladores que entendem que o AI Act tem de proteger sem sufocar. Municípios que simplificam processos em vez de os complicarem. Escolas e universidades que formam para a tecnologia, mas também para o pensamento crítico, para a ética e para a cidadania. Empresas que pagam salários à altura do valor criado. Governos que pensam além do próximo ciclo eleitoral.
Ainda assim, pela primeira vez em muito tempo, é possível olhar para Portugal com uma confiança diferente. O país já não é apenas um bonito cenário. É um ativo estratégico. E, talvez o mais importante, começa a ser um lugar onde um jovem pode imaginar o seu futuro sem partir logo de princípio que terá de sair.
Entre cabos submarinos, gigafábricas de IA, hubs de saúde, startups que exportam conhecimento e uma comunidade tecnológica vibrante, Portugal tem à sua frente uma oportunidade rara. A de provar que um país pequeno, com memória de emigração e salários baixos, pode reinventar-se como um lugar onde o futuro não se vê só na televisão. Vive-se. Aqui.
 
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